sussurros de lullaby

Entre o kitsch e o cliché, ao som imaginário de I Love You… Nor Do I de Nick Cave e Anita Lane

terça-feira, dezembro 27, 2005

Quarenta (1/40)

Quando tranquilamente conseguia fazer as suas escolhas, comprava os livros e ficava a olhar para eles, cheirava-os. Eram espelhinhos na mão, na rua. Em casa, voltava a cheirá-los, as tais quarenta snifadelas, e pousava-os sobre a mesa, a velha mesa de carvalho, e contemplava. Lia e deixava-os depois no sossego das estantes, alinhados nas filas classificadas a rigor. Havia livros que se escondiam, com o tempo uns mais do que outros, e custava-lhe, algumas vezes, compreender algumas presenças. Nalguns casos era o título. Rodava os olhos sobre os caracteres impressos e procurava indagar mais fundo. Nalguns casos isso durava anos, com releituras, mas acabava por negociar entendimento.

“Bibliófago”, de Abel Neves

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Mensagem de Natal

O Natal é uma festa cristã em que a família se reúne. Comem-se doces como pudins, arroz-doce, filhoses, rabanadas, etc.
Foi nessa altura que Jesus nasceu. Vou enfeitar o meu pinheiro com bolas, fitas e luzes coloridas e, bem lá no alto, uma estrela dourada. Ainda não pedi nada a Jesus, porque sei que há crianças que nem pão têm para comer…
Gostava de mandar esta mensagem aos homens que governam o mundo: para acabarem com as guerras, para ajudarem os infelizes a terem trabalho e uma casa confortável, para haver Natal para toda a gente, para haver paz e amor! Assim, o nosso mundo seria, finalmente, um mundo feliz!

As palavras são minhas e datam de 14 de Dezembro de 1989

Desejo-vos um feliz Natal.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

All I want for Christmas (3):

All I want for Christmas (2):

Um bilhete para o concerto da Maria Rita, dia 9 ou 10, não sou esquisita!

quarta-feira, dezembro 21, 2005

All I want for Christmas (1):

Uma bolsa para pôr à cintura, da ExperimentaDesign, que vi na embaixada lomográfica.

All I want for Christmas:

Uns binóculos muito pequenos, para assistir a concertos e conseguir ver o detalhe, seja ele qual for, pode ir desde o dente torto do vocalista, da palheta do guitarrista, da toalha encharcada em suor do baterista ou dos dedos calejados do baixista.

Declaro-vos marido e Elton John

Um brinde aos noivos!

terça-feira, dezembro 20, 2005

Acelerada memória

Então deito-me e recordo. Consigo condensar uma história num único pormenor (talvez por não me conseguir lembrar do resto), prendo-me durante minutos num pormenor de segundos, num agarrar de uma mão, num simples toque que inicia mais uma memória. Depois, de uma forma acelerada, em jeito de sinopse anacrónica vejo imagens, muitas delas já desprovidas de qualquer tipo de sentimento. Vejo luxúria, vejo umas calças de pijama entaladas num par de meias.
Volto-me na cama e esqueço novamente.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Repudiada memória

Para quê evitá-la se ela aparece quando menos se espera? Ou para quê desviá-la, se no fundo o que queremos é deliciar-nos com a sua presença. Para quê? Se dizem que recordar é viver, então que se foda: viva-se!

domingo, dezembro 18, 2005

Fragmentada memória

Aparece, simplesmente aparece, despoletada por algo que nem sempre é descodificável vem e preenche o pensamento. Outras vezes existe um esforço de querer recordar, um recordar que não quer esquecer. Mas porque não apagar? Apagar de uma vez por todas e sem retorno possível? Há um filme assim, “despertar da mente” apaga a pessoa da memória, esquece-se, desapaixona-se para num encontro posterior voltar a se apaixonar.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Nefasta memória

Se lembro é porque um dia esqueci e se esqueço é porque me lembrei que esqueci. Esquecemos para nos lembrarmos. Esqueço. Lembro. Torno a esquecer, torno a lembrar e esqueço novamente. Hoje lembro, com a certeza que um dia esquecerei…

quarta-feira, dezembro 14, 2005

*

Pau para toda a obra, a estagiária faz tudo. Aqui está: o cartão de Natal.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Eficácia!

Hoje entrei em duas lojas (uma pelo Bairro Alto e a outra pelo Chiado) e fiz as minhas compras de Natal todas (minto, faltam duas). E eficácia não é sinónimo de falta de originalidade. You’ll see…

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Trago nos ouvidos…

Tindersticks – SIMPLE PLEASURE.

domingo, dezembro 11, 2005

Let’s look at the trailer [10]

Os filmes deixam de ser injustos quando neles as palavras são poupadas, quando não se narra uma história, quando os actores não dizem o que sentem, quando assistimos a um conjunto de imagens explicativas ou não, que podem ser totalmente deturpadas com as nossas ilações. Atribuímos o sentido que queremos, fazemos nós a nossa história. Saímos felizes, se assim o quisermos, ou infelizes, a escolha é nossa.

“Ferro 3”, de Kim Ki-Duk

Belisquem-me!

Dois meses depois, ela volta a escrever…

sábado, dezembro 10, 2005

Ode a Jorge Palma sem “bairro do amor” I

"espécie de vampiro"

Eu não sou quem tu desejas
Eu não sou aquele que beijas
Sou um mero pesadelo ou fantasia

Eu sou muito mais que velho
E intimido qualquer espelho
Sou o amigo mais funesto da poesia

Sou um tipo de morcego
Que é completamente cego
Embora, às vezes, seja fã do Fritz Lang

Sou uma espécie de vampiro
E quando sobre ti me atiro
É para saborear um pouco do teu sangue
Só para beber gota a gota o teu sangue

Tu não sabes de onde venho
Dás conversa a qualquer estranho
Ainda vais beijar-me os lábios docemente

Não confias nos teus pais
E acreditas que os jornais
Só relatam a verdade doutra gente

Sou um tipo de morcego
Que é completamente cego
Embora, às vezes, seja fã do Fritz Lang

Sou uma espécie de vampiro
E quando sobre ti me atiro
É para saborear um pouco do teu sangue
Só para beber gota a gota o teu sangue

É para saborear
Um pouco do teu sangue

Só para beber
Gota a gota do teu sangue

É só para beber
Gota a gota do teu sangue

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Let’s look at the trailer [09]















Bill fuckin’ Murray (de Coffe and Cigarettes, do mesmo Jim Jarmusch) é igual a si próprio desde o GhostBusters. Em Broken Flowers não é excepção, é ele igualmente genial: Bill fuckin’ pink Murray.

(a)casos

De repente o mundo lembra-se que eu trabalho no Bairro Alto e almoço pelas imediações do Chiado, e resulta numa manhã assim:

10h30m - confirmação que C almoça comigo, local e hora marcada.
11h30m - Z telefona, quer almoçar comigo e diz que M também. O mesmo local e a mesma hora marcada.
12h00m - S sugere almoço no Almoçariz ou no iseg. Nada disso, vem ter comigo ao mesmo local e à mesma hora marcada.
12h30m - M1 sugere almoço no Rato. Por quem és? Para ti, o mesmo local e a mesma hora marcada.
13h30m - M1 telefona e diz que M2 também vai! Força! Mesa para 7 no italiano e almoço até às 15h.

Sorry, Chuva! Mas o meu mundo quis estar comigo…

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Ponto final

Eu sou louca ponto final e fico louca quando tu me dizes que te ponho louco ponto final

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Ponto de exclamação

Se sabem que são loucos admitem que o são… ou escondem-se sob uma máscara de normalidade aparente? Disfarçam a sua insanidade para não serem acusados de loucura? Numa viagem inquieta, camuflados ou não, caminham para a loucura conscienciosos disso. Com o decorrer do percurso, o dúbio torna-se óbvio, e a insanidade anteriormente questionada parece afastada, a consciência da cura não é mais do que a declaração da loucura eterna e do impossível retorno!

sábado, dezembro 03, 2005

Ponto de interrogação

Os loucos sabem que são loucos? É porque muitas vezes questiono-me se estarei a ficar louca. Mas se tenho essa consciência é porque afinal não o sou, porque os loucos não sabem que são loucos, ou sabem?

Let’s look at the trailer [08]

Onde a loucura é a mais sóbria e a sobriedade é a mais louca.

“Reis e rainha”, de Arnaud Desplechin

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Soundtrack imprevista

Gosto quando estou no cinema e, inesperadamente, oiço nos primeiros minutos de “Intimidade”, A night in dos Tindersticks, ou no meio de “Shrek 2”, People ain´t no good, de Nick Cave, ou ainda no final de “Um peixe fora de água”, Starálfur dos Sigur Rós.