sussurros de lullaby

Entre o kitsch e o cliché, ao som imaginário de I Love You… Nor Do I de Nick Cave e Anita Lane

segunda-feira, março 26, 2007

Frase de Nobel com orgasmo no fim

Então confiou-se àquela mão e, num terrível estado de esgotamento, deixou-se levar para um lugar sem formas onde lhe tiraram a roupa, o voltaram de todos os lados como se fosse um saco de batatas, o viraram do avesso, numa escuridão insondável em que lhe sobravam os braços, onde já não cheirava à mulher mas a amoníaco, e onde tentava recordar o rosto dela e se lhe deparava o rosto de Úrsula, confusamente consciente de que estava a fazer uma coisa que desde há muito desejava que se pudesse fazer, mas que na verdade nunca imaginara que se pudesse fazer, sem saber como é que o estava a fazer, porque não sabia onde tinha os pés nem onde tinha a cabeça, nem os pés de quem nem a cabeça de quem, e sentindo que não podia resistir por mais tempo ao rumor glacial dos rins e ao ar das suas tripas, e ao medo, e à ânsia atordoada de fugir e ao mesmo tempo de ficar para sempre naquele silêncio exasperado e naquela espantosa solidão.

Gabriel García Márquez

sábado, março 24, 2007

Quem são os babes?




















a) Lucas e Mateus
b) Leandro e Leonardo
c) Chitãozinho e Xororó
d) Outros:___________

quinta-feira, março 22, 2007

The king is alive!

(acreditem se quiserem) Hoje de manhã apanhei o Ali Farka Touré no metro, tinha chapéu e tudo! Estive para lhe pedir um autógrafo…

quarta-feira, março 21, 2007

Dia m da poesia

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

terça-feira, março 20, 2007

Frame a preto e branco [6]












Half Nelson, de Ryan Fleck

segunda-feira, março 19, 2007

Eu e o Woody Allen

Eu e o Woody Allen não nos damos muito bem, não somos grandes amigos e quando nos cruzamos evitamos o olhar. Suportamo-nos o tempo da duração de um filme e depois passamos meses ou anos sem nos vermos. Para ele, sou de riso difícil e não me conquista uma gargalhada só com uma simples aparição e um truque de magia. Fosse ele o Groucho, e eu rir-me-ia à primeira visão, mas não é. Então, faço-o penar, e tolamente com o seu ar e a sua voz baça e monocórdica, lança frase atrás de frase até desesperar com a minha apatia. Ultimamente, quando ele menos espera, acabo sempre por ceder e rio-me. Em Hollywood Ending não me ri.

domingo, março 18, 2007

Frame a preto e branco [5]













Scoop, de Woody Allen

sábado, março 17, 2007

O dia em que troquei Miccoli por Piccoli

Michel Piccoli está em Lisboa e eu fui vê-lo numa cinemateca composta, mas não esgotada (ao que parece os ausentes preferiram o futebol e até mesmo Piccoli saiu para torcer pelo St Germain, mas pelos vistos não torceu o suficiente).
A meu lado, sentava-se uma senhora já com alguma idade que aplaudia com um entusiasmo incrível a presença do grande actor. Indiscutivelmente era uma fã assumida, que mandava calar o marido sempre que ele abria a boca, e nas partes mais interessantes do filme chegava-se para a frente da cadeira numa pose composta e erecta, e apreciava todos os momentos de interpretação de Piccoli. Imagino-me dentro de 40 anos a aplaudir com o mesmo entusiasmo o Johnny Depp a apresentar um “Ed Wood” onde mais uma vez Bénard da Costa fossilizado fará o preâmbulo à sua homenagem.

quarta-feira, março 14, 2007

Cirurgia musical

Farta de não conseguir ouvir cd’s na aparelhagem maravilha do “télier”, calcei as luvas, abri o leitor, e com a trincha das maquetas na mão: voilá, cirurgia de sucesso! O primeiro cuidado pós-operatório foi o meu grandioso OK Computer.

terça-feira, março 13, 2007


segunda-feira, março 12, 2007

"Não tenhas medo, eu estou aqui!"

Sempre que posso desço à fnac, passo pela secção obrigatória e observo-os, ordeno-os e exponho-os. Em jeito de despedida, leio o título em silêncio e apago a luz.

terça-feira, março 06, 2007

Vozes que roçam o desejo |cinco|


segunda-feira, março 05, 2007

Lisboa ainda fica em Portugal

Eu concordo que o alvo dos concertos não deva ser somente Lisboa. Sei que é penoso ter de andar quilómetros, dormir no carro ou numa pensão manhosa, ou nem sequer dormir para assistirmos àquele espectáculo tão aguardado. E defendo que deve haver uma distribuição homogénea dos espectáculos pelo país, mas bolas, não os desviem de Lisboa. Dificilmente conseguirei ver Bonnie ‘Prince’ Billy em Braga ou uns Bad Seeds em Coimbra.

domingo, março 04, 2007

“ronda fadista”

Trás a guitarra contigo
E vamos os dois num salto
Cantar nosso fado amigo
P’las ruas do Bairro Alto

Eu calço as minhas chinelas
P’ra ficar mais donairosa
E canto canções singelas
À luz da lua formosa

E alegres de braço dado
Antes de nascer o dia
Vamos os dois lado a lado
Cantar p’ra Mouraria


E ao sairmos da Moirama
Ditosos como ninguém
Iremos até Alfama
Cantar o fado também

E pondo o sol a brilhar
No céu onde tudo avista
Deus virá abençoar
Este casal tão fadista